O livro Intelectuals and Society, toca num tema muito importante para entender o Brasil.
A maioria dos intelectuais não é motivada por dinheiro.
Se fossem, não escolheriam uma profissão onde o salário é baixo.
Intelectuais são movidos por prestígio, por fama e não por grana.
Por isto, você verá muito mais intelectuais dando entrevistas na imprensa, se deslocando graciosamente para aparecer na televisão do que engenheiros, advogados e médicos que não têm tanto tempo à disposição.
Para o intelectual, aparecer é a sua moeda de troca, a sua grande motivação.
Até aí tudo bem, no fundo todos nós temos um pouco de vaidade.
O problema é quando esta vaidade vai contra a integridade intelectual.
A questão que todo intelectual é forçado a enfrentar é: devo dizer o que eu penso, ou devo dizer o que a plateia quer ouvir?
Se meu compromisso é com a integridade intelectual, corro o risco de não agradar o entrevistador e nunca mais ser convidado. E isto seria a morte.
Mas se eu responder sempre da forma politicamente correta, dizer o que está no ar da consciência coletiva, eu voltarei aos holofotes da fama.
O programa terá Ibope, e eu também.
"Diga o que a platéia quer ouvir", dizem os assessores de imprensa dos entrevistados.
Este infelizmente virou o dogma dos intelectuais do século XX.
Por isto são sempre politicamente corretos, a favor da distribuição da renda, da ecologia etc. Quebrar alguns ovos, jamais.
Senti na pele esta "ética dos interesses".
Há muitos anos apresentei um plano para resolver a questão da dívida externa.
As planilhas que eu desenvolvi num Visicalc mostravam que em 2005 a dívida deixaria de ser problema porque a inflação americana se encarregaria de barateá-la. (Não deu outra.)
Meu plano foi citado em 1988 pelo International Finance Corporation do Banco Mundial como um dos 10 planos interessantes da época e tive meus meses de glória e mais de 200 entrevistas em jornais e TV.
Ingenuamente achei que a minha solução proposta iria vingar.
Afinal, era o único brasileiro na lista, e 7 eram economistas americanos com soluções que beneficiavam o outro lado.
Aí, algo curioso aconteceu.
O economista mais famoso na época, Mario Henrique Simonsen, que até então defendia limitar os juros em 2,5% do PIB, um absurdo operacional, mudou de ideia.
Ele passou a defender pagar juros limitados a 30% de nossas exportações.
Novamente totalmente teórico e nada operacional.
Como estabelecer que você, John Smith, detentor de US 10.000 da dívida brasileira, iria receber juros limitados à sua cota parte de 30% de nossas exportações no dia 31 de março, refente aos últimos 6 meses de uma dívida total móvel, e exportações que variam dia a dia?
Planos nada operacionais tem sido nossa sina, e metade de nossas leis ainda não foram "regulamentadas", por serem absurdas como esta.
Mas o Prof. Mario Henrique conseguiu o que queria.
Mais entrevistas e mais prestígio.
E eu comecei a perder espaço.
"Voce não tem outro plano para apresentar? O seu último, já divulgamos."
Ano seguinte Mario defendeu uma Moratória de 7 anos, em vez de 5 anos, proposta pelo seu colega Celso Furtado.
Ele conseguiu com estas e outras todas documentadas, ficar na mídia por 5 anos
Eu não. Os 200 jornalistas que me entrevistaram originalmente, pararam de me procurar.
Lilian Witte Fibe, a mais famosa jornalista da época, foi honesta e me explicou o porquê.
“Seu discurso é sempre o mesmo, não é mais notícia.”
Claro que meu discurso era o mesmo, ciência é exatamente isso. O problema é um só e a solução depende do problema.
A inflação americana era o problema, e ela continuava firme corroendo nossa dívida, como continuaria a fazer até 2005 quando a divida se tornaria praticamente zero.
Mas por que esperar até 2005 para resolver o problema, gerando as duas décadas perdidas que acabamos perdendo, se já tínhamos uma solução?
Imaginem a minha frustação.
Achei que estaria lutando contra banqueiros americanos e não contra economistas brasileiros, que tinham outra agenda que não o progresso deste país.
Perdemos 20 anos de crescimento econômico devido a certas vaidades intelectuais.
Eu poderia culpar os jornalistas deste país por não entenderem de administração nem de economia, e portanto não puderam discernir qual plano era melhor.
Mas o problema é quando pessoas treinadas para serem cientistas não o são.
Leiam o último do livro de Thomas Sowell http://www.amazon.com/Intellectuals-Society-Thomas-Sowell/dp/046501948X
Ele descreve um caso após outro como este.



