A graça é o poder contraditório de atração, exercido sobre o nosso ser, que faz com que ate mesmo os nossos pecados e conflitos nos aproximem de Deus.
Toda confusão e, preocupações que o pecado produz, quanto ao próprio estado moral diante de Deus, já é condição sem a qual não se vive de fato, perante Ele. Estar diante Dele em graça, é estar exatamente como um ser que foi sublinhado o fato de ele estar encurralado pelo pecado.
A graça não exclui a posição e classificação de pecador, e nem elimina o mal na existência, antes detecta e ressalta o pecado, deixando o homem suspenso e desnudo diante de Deus. Esta graça não é antítese da Lei, antes é a própria Lei como meio de graça, que revela um entendimento necessário como condição de estar na presença de Deus na mais absoluta verdade: a verdade do próprio pecado.
A graça não é basicamente paz de espírito, mas sim é o eu do homem posto em confrontação com os seus pecados diante do Santo. Graça são as experimentações de uma estância de crise e tensão pela condição de impasse e embaraço que o pecado suscita na consciência do homem. Na graça o pecado não se erradica antes se releva como um problema ininterruptamente contínuo e gigantescamente mal resolvido.
O estado de graça é a revelação da verdadeira e constante situação do homem diante de Deus: um ser que interiormente se dilacera entre o Paz e a culpa a Lei e a liberdade. Cuja intimo do homem, sob o imperativo Lei, se debate e se despedaça na questão visceral de nunca encontrar um meio preventivo contra o pecado.
A graça é esta contradição irremovível fundamental para o salto da fé sem apoios.
Se o homem crê na impossibilidade da obediência aos mandamentos, a Lei moral esta em seu encalço como verdade absoluta e irrevogável sobre a sua consciência, mas se ele acredita na possibilidade da santidade, o pecado como realidade gritante na sua carne, rouba-lhe as paz e suas seguranças. Nem a regra ou liberdade estão para o homem, mas sim a não mensurável e incompreensível: Graça.
O pecado de quem esta, pela graça, aberto para Deus, não tem o poder de afastá-lo Dele, antes o coloca diretamente, e sem saída, em sua Presença, num estado de agitação de ser e indagação persiste quanto as suas escolhas possíveis e possibilidades de escolhas, onde o homem não tem como esquivar por o pecado ter implicações diretas na sua relação com a continuidade da inteireza da disposição moral de sua alma. Quão quanto todo o seu conflito só aumenta a sua responsabilidade como também a sua consciência de incapacidade.
É no pecado que o homem percebe que a Face de Deus esta ali, diante dele, o perscrutando e inquirindo do homem uma posição. Mesmo que nenhuma disposição o torne em condição de aceitável ou livre desta crise do ser. A graça é essa trajetória trágica, em que Deus conduz o homem ao autoconhecimento da sua incapacidade de nunca poder estar perante Ele a não ser: em pecado. Mas poder estar diante Dele em qualquer condição, já é em absoluto: toda a Graça.