A afirmação acima, do filósofo contemporâneo Luiz Felipe Ponde*, diz muito a respeito de pessoas que parecem ter sido confeccionadas em uma fábrica e soltas no mundo. Na dimensão religiosa os efeitos são ainda mais gritantes, isto porquê, se confere nela – cada vez mais – um sem número de pessoas parecidas em suas expressões no ritual do sagrado.
Essa produção de cristãos limpinhos, higienizados, extremamente positivistas (tudo é plano de Deus em função do seu filho querido, no caso “nós”, cristãos), flertando com um determinismo estúpido que se verifica em frases prontas e pensamentos configurados por líderes que não compartilham A Mensagem. Ao contrário, utilizam-na como pretexto para doutrinas e filosofias tão frágeis que uma argumentação mais profunda pode desmontá-las como esculturas de areia com a próxima onda.
Mais especificamente, esse comportamento de cristão SUPER ULTRA POWER MEGA VITORIOSO contradiz o exame mais detido das palavras de Jesus sobre a realidade do mundo, as dores da alma e o sofrimento de se viver uma vida que valha a pena, sem cabrestos. Fora um sem número de canções que falam sobre como Deus tão personalizado atende exclusivamente meus desejos, sonhos, intenções. Geralmente, essa visão sobre nós mesmos (evangélicos/cristãos) nos torna “superiores” aos seculares, isto é, aqueles que não professam a mesma fé que a nossa.
Pouco menos de 20 anos atrás, líderes cristãos homogeneizavam o “rebanho” (em alguns casos tratava-os como gado mesmo) impondo desde o uso de quais vestimentas eram apropriadas, ou não, até se deveriam ter uma televisão em casa. Alguns evangélicos, atualmente, afirmam que “evoluímos”. Discordo totalmente. Isso porquê, hoje, os líderes cristãos [que são os tele-evangelistas, ministros de louvor de mega igrejas, cantores, pastores e pregadores pentecostais em sua grande maioria] dizem o que deveríamos consumir, qual a versão da bíblia é mais próxima do original (!), quais CD's são mais espirituais, quais DVD's do mais “santo” pregador devemos ver/ouvir, e, pasmem, quais frases positivistas e deterministas devemos usar em todas as situações: "Deus está no controle", “Todas as coisas cooperam para o bem”, "Tudo vai mudar, as portas vão se abrir”, “Eu sou mais que vencedor”, “O inimigo está debaixo dos meus pés”, entre muitos outros mantras.
É óbvio que não questiono o valor da bíblia, da palavra revelada, basta ler os outros artigos deste blog para conferir o que digo. O problema em questão é a utilização de frases prontas (por mais que estejam na bíblia) para distorcer a realidade na qual estamos inseridos. Neste sentido, já estamos vendo os frutos desta doutrinação, quer dizer, geração: cristãos mimados que não entendem a verdade, tapam os ouvidos para a palavra, calam-se diante das injustiças e violência social e mais que isso, fecham-se em guetos (igrejas) para benefícios próprio: cultos para nós, festas para nós, escola bíblica para nós, eventos para nós...enquanto isso, do outro lado da rua...
Por isso, a afirmação de Pondé me parece lógica: Melhor sofrer sendo gente do que sorrir sendo uma pedra burra.
Juliano Fabricio via



