O entendimento desencadeia a compaixão, que torna possível o perdão. O autor Stephen Covey relembra um episódio ao tomar o metrô num domingo. Numa tranqüila volta pela cidade de Nova York, um homem e seus filhos entram abruptamente no trem. As crianças corriam desenfreadas, gritavam, berravam e se agarravam numa luta corpo a corpo sem que o pai fizesse nada para impedi-las.
Por fim, Covey virou-se para o pai e disse:
Senhor, talvez o senhor pudesse restaurar a ordem aqui, pedindo a seus filhos que parassem e se sentassem.
Eu sei que deveria fazer alguma coisa — replicou o homem. — Acabamos de vir do hospital. A mãe deles morreu faz uma hora. Simplesmente não sei o que fazer.
Nosso coração de pedra torna-se coração de carne quando ficamos sabendo em que altura as pessoas choram.
Os filhos e as filhas de Aba devem ser as pessoas menos julgadoras. Devem ter a fama de se darem bem com pecadores.
Lembra-se da passagem de Mateus em que Jesus diz: “… sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês” (5:48)? Em Lucas, o mesmo versículo é traduzido: “Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso” (6:36). Estudiosos da Bíblia afirmam que as duas palavras, perfeito e misericordioso,podem ser reduzidas à mesma realidade. Conclusão: seguir Jesus em seu ministério de compaixão precisamente define o significado bíblico de ser perfeito como o Pai celestial é perfeito.
Minha identidade como filho de Aba não é uma abstração, nem um malabarismo de religiosidade. É a verdade central da minha existência. Viver na sabedoria que decorre da ternura de ser aceito profundamente influi na minha percepção da realidade, no modo em que respondo às pessoas e às situações da vida delas.
Como trato meus irmãos e irmãs dia após dia, sejam eles arianos, africanos, asiáticos ou latinos; como reajo aos bêbados sem-teto nas nossas ruas, cicatrizados pelo pecado; como respondo às interrupções das pessoas com quem antipatizo; como lido com pessoas comuns em sua incredulidade comum, num dia comum, falará a verdade de quem sou mais pungentemente do que o rótulo pró-vida no pára-choque do meu carro.
A vida misericordiosa não é nem uma boa vontade sem esmero para com o mundo, nem a praga que Robert Wicks chamou de “simpatia crônica”. O caminho da ternura evita o fanatismo cego. Em vez disso, procura enxergar com clareza penetrante. A compaixão de Deus em nossos corações nos abre os olhos para o valor singular de cada pessoa. “O outro é também o nosso ‘nós’; e devemos amar a esse ‘nós’ em seu pecado como fomos amados em nosso pecado.”
Essa é a luta incessante de toda a vida. É o processo longo e doloroso de me tornar como Cristo no modo em que escolho pensar, falar e viver a cada dia. “O amor de Deus não é um amor condicional; é um entregar-se de coração aberto, generoso, que Deus oferece aos homens. Quem se dedica a limitar a operação do amor de Deus… não entendeu nada”.
Surrupiado elegantemente de:
O Obstinado Amor de Deus – Brennan Manning – Mundo Cristão via