"[...] a expressão radical para todo o teísmo cristão era esta: que Deus era um criador, como um artista é um criador. Um poeta está tão separado de seu poema que ele mesmo refere-se a ele como uma coisinha que foi "jogada fora". Até mesmo no ato de produzi-lo ele o jogou fora. Esse princípio segundo o qual toda criação, toda procriação é um desprender-se é no mínimo coerente através do cosmos como o princípio evolucionário de que todo crescimento é uma ramificação.
Uma mulher perde o filho exatamente quando o está dando à luz. Toda criação é separação. O nascimento é uma despedida tão solene quanto a morte.
O princípio filosófico básico do cristianismo era que esse divórcio no ato divino de criar (como o que separa o poeta do poema ou a mãe do filho recém-nascido) era a verdadeira descrição do ato com o qual a energia absoluta criou o mundo.
Segundo a maioria dos filósofos, Deus ao criar o mundo o escravizou.
Segundo o cristianismo, ao criá-lo Deus o libertou.
Deus havia escrito não exatamente um poema, mas antes uma peça; uma peça que planejara à perfeição, mas que tinha necessariamente legado a atores e diretores humanos, que a partir daquele tempo a transformaram numa grande confusão."
G. K. Chesterton em "Ortodoxia".