Agora, enquanto reflito nas histórias de Jesus a respeito do reino, percebo que muita da intranquilidade entre os cristãos de hoje surge de uma confusão entre os dois reinos, o visível e o invisível.
Cada vez que uma eleição se aproxima, os cristãos discutem se esse ou aquele candidato é o "homem de Deus, ou no mínimo melhor para os interesses evangélicos".
Projetando-me de volta aos tempos de Jesus, tenho dificuldade de imaginá-lo ponderando se Tibério, Otávio ou Júlio Cesar... — sem mencionar Nero ou Calígula — era o "homem de Deus" para o império. O que acontecia em Roma estava num plano completamente diferente do plano do reino de Deus.
Infelizmente a igreja perde de vista sua missão original à medida que se aproxima do centro de poder.
Testemunham isso a época de Constantino, a Idade das Trevas e a Europa de um pouco antes da Reforma. Pode ser que estejamos vendo a história se repetir. A igreja tem enfrentado a tentação constante de se transformar no "patrulhamento moral" da sociedade.
O relacionamento íntimo entre a igreja e o governo tem resultado na perda de respeito pela igreja.
Forçar uma cristianização é sempre uma batalha perdida.
Como disse Karl Barth: "[a igreja] existe... para estabelecer no mundo um novo sinal que é radicalmente diferente da maneira [do mundo] e que o contradiz de uma forma que é cheia de promessas".
Lembretes úteis:
• Se as portas do inferno não vão prevalecer contra a igreja, o cenário político atual dificilmente vai representar uma ameaça significativa. [Sem medos]
• Talvez a política tenha demonstrado ser tal armadilha para a igreja porque o poder raramente coexiste com o amor. Nossos melhores esforços na sociedade mutante falharão a não ser que a igreja possa ensinar o mundo a amar.
• A escada do poder sobe, a escada da graça desce.
• Os cristãos deveriam se envolver em política e usar seus princípios cristãos, sua moralidade e sua ética no processo. Mas eles não deveriam pular neste meio, dizendo que suas crenças são a única saída possível".
• Política deveria ser feita com integridade, transparência e idealismo. Quem joga sujo para levar o título, certamente jogará sujo enquanto estiver no poder. Como dizia Gandhi, "o que destrói a humanidade é a política sem princípios, o prazer sem compromisso, a riqueza sem trabalho, a sabedoria sem caráter, os negócios sem moral, a ciência sem humanidade e a oração sem amor."
• Não seremos ajudados pelo poder, apenas pela renúncia de poder, da parte de Deus, por amor de nós.
O poder nos força a mudar; apenas o amor pode nos mover a mudar.
O poder afeta o comportamento; o amor afeta o coração.
• “A igreja deve ser lembrada de que não é a mestra ou a serva do Estado, mas sim a sua consciência… Ela deve ser a guia e a crítica do Estado, nunca sua ferramenta. Se a igreja não recuperar seu fervor profético, ela se tornará um clube social irrelevante, sem autoridade moral ou espiritual.” Pr. Martin Luther King, Jr (1963), Strength To Love.
*Reflitam, pois esse tiro pode vir contra nós*
Juliano Fabricio
“Vendo o futuro repetir o passado”