Simon Tugwell afirma:
Uma das maneiras mais eficazes de não sermos felizes
é insistir em sermos felizes a qualquer custo.
Em uma espiritualidade desequilibrada, o que fica em primeiro plano é o moralismo. Logo de início apresenta-se uma ideia distorcida do relacionamento entre Deus e os seres humanos. Com os país a criança aprende que existe uma divindade que desaprova a desobediência, as brigas entre irmãos e as mentiras. Quando vai para a escola, essa criança percebe que Deus está do lado de professores com suas exigências meticulosas. Na igreja, aprende que Deus tem outro conjunto de prioridades: aprende que ele não gosta da falta de crescimento numérico da congregação, da frequência irregular dos membros e das exigências financeiras que não estão sendo atendidas.
Ao chegar ao ensino médio, ela descobre que Deus também está preocupado com a obsessão por sexo, com a bebida e com as drogas. Depois de vários anos de doutrinamento cristão em casa, na escola e na igreja, a criança, agora adolescente, percebe com tristeza que Deus foi usado como ameaça por todos os que se responsabilizaram por sua disciplina, a exemplo do papai e da mamãe que, já sem saber como lidar com as travessuras de uma criança, acabam fazendo referências ao inferno ou a um castigo eterno. Por meio de um doutrinamento ignorante como esse, Deus acaba sendo associado ao medo na maioria dos jovens corações.
O moralismo e seu filho adotivo, o legalismo, pervertem o caráter da vida cristã. Já antes da faculdade os jovens abandonam Deus, igreja e religião. Se perseveram na prática da religião, a necessidade que têm de apaziguar um Deus arbitrário transforma o culto de domingo numa apólice de seguro marcada por superstição e destinada a proteger o crente contra os caprichos de Deus. Quando o fracasso inevitável chega na vida das pessoas feridas, elas disparam um mecanismo de negação para se proteger do castigo. A imagem perfeita precisa ser preservada a qualquer preço.
Nós também nos esforçamos muito por proteger nossa imagem coletiva. Conheço um jovem que depois de confessar à liderança que tinha problemas com pornografia, recebeu sua carta de afastamento no mesmo dia. [Ps: a igreja deveria ser o lugar mais seguro para se errar. Pense nisso!]
Com toda a clareza, o Deus da nossa imaginação não é digno de confiança, adoração, louvor, reverência ou gratidão. E assim, se não estamos dispostos a lidar com a questão da transcendência, esta é a única divindade que conhecemos.
A perda da transcendência tem deixado um rastro de cristãos desconfiados, cínicos e revoltados contra um Deus dado a caprichos e uma porção de bibliólatras arrogantes que alegam saber exatamente o que Deus pensa e planeja fazer.
*A distância de Deus precisa ser compensada por sua proximidade. Essa definição errada de um DEUS transcendente coloca-o fora do nosso mundo e da nossa vida. Ele fica lá distante, indiferente em sua majestade infinita. Imanência não é o contrário de transcendência, mas seu correlato; imanência e transcendência são dois lados da mesma moeda, duas faces da mesma realidade divina. Transcendência significa que Deus não pode ser limitado ao mundo; ele não é isto ou aquilo, nem está aqui ou ali. Imanência, porém, significa que Deus está integralmente envolvido conosco "e, sendo o mistério mais profundo, vive em tudo que existe", está aqui com o mistério de sua proximidade. Desconsiderar a imanência de Deus nos priva de todo senso íntimo de pertencer, ao passo que, se não olharmos para sua transcendência, estaremos negando a Deus sua divindade. Acho que precisamos entender isso para prosseguir nessa jornada vez ou outra, conturbada. [Conceito interessante que encontrei em um livro do Brennan Manning]
Juliano Fabricio
Só falo do que sei...