Porque o Pentecostes, em seu coração ardente, não fala só sobre linguagem, mas é também um ato de rebelião divina através da linguagem.
É o protesto exposto ao vento de um Deus sem fronteiras que se posiciona contra a equivocada preferência humana pela linguagem vazia dos poderosos.
No Pentecostes, Deus fala contra a tendência humana de forçar a unidade através da uniformidade e da exclusividade, exigindo que as pessoas se conformem a padrões arbitrários de respeitabilidade e fazendo tudo isso em nome de Deus.
No dia de Pentecostes Deus fala do lado de fora das muralhas de religiosidade do templo, do lado de fora dos salões do poder político, do lado de fora dos limites da respeitabilidade. Deus fala nas ruas. A voz divina é manifesta em todas as línguas e em todos os povos, não só no latim imperial dos ocupantes romanos nem só no idioma da elite religiosa que restringia o acesso a Deus através de taxas opressivas. Em vez disso, Deus fala no vernáculo do cada dia e de todo lugar.
No Pentecostes, Deus concede a voz divina às línguas de um bando de zés-ninguém e a uma multidão de gente comum. Trata-se de um ato de liberação, tanto para a humanidade quanto para Deus.
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Um Deus de muitas línguas. Um Deus de muitos povos. Um Deus sem idioma oficial. Um Deus que, em vez de silenciar, delega poder ao discurso dos oprimidos, dos brutalizados e dos marginalizados. O Pentecostes foi uma revolta contra os que buscavam restringir Deus a um único e respeitável idioma oficial de um único povo justo ou a uma única teologia sistemática.
