Vocês ouviram o que foi dito.
Mateus 5:21,27,33,38,43
O que foi dito e o que Jesus disse
A primeira coisa a reconhecer é que você está inteiramente informado de tudo.
Você já foi submetido a toda a verdade, já ouviu o que precisava ser ouvido e sabe o que precisa saber. Nada foi escamoteado da mensagem. Adicionado, com toda a probabilidade – sonegado, nem uma vírgula.
O mais curioso sobre o que tenho a dizer, portanto, é que todo o essencial você já ouviu mais de uma vez. Nenhuma revelação adicional será necessária, nenhuma revelação adicional bastará. Se você busca oráculos e confidências espirituais sabe muito bem onde pode encontrá-los. De mim você não receberá nada que não possa beber diretamente na fonte. Você pode precisar de perseverança e de discernimento; pode desejar companhia e um ombro para se recostar; pode ajoelhar-se pedindo forças para fazer o que precisa ser feito, mas não para que lhe seja revelada alguma coisa que você ainda não sabe.
Não adianta olhar para o céu esperando alguma mandamento adicional. As ordens que nos foram deixadas bastariam para ocupar mais de uma vida, se tivéssemos alguma de reserva.
O Senhor me revelou que você não precisa de revelação alguma.
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Antes de falar sobre Jesus, e é somente a respeito dele que eu deveria estar falando, deixe-me falar sobre os que afirmam que o seguem sem saber do que estão falando.
Deixe-me falar de mim.
Sou uma farsa. Sou um patife, um mentiroso e um canalha. Sou também um santo em muitos sentidos, mas isso apenas distorce a essência da mensagem que eu deveria estar transmitindo. Jesus evidentemente não veio para os santos, os intocados, os poupados, os intocáveis, os que merecem uma categoria à parte. Sua paixão é pelos mistos, os imundos, os misturados, os irremediáveis, os caídos, os violados, os atormentados, os não-resolvidos. Somente a parte de mim não contaminada pelo meu vício de comportar-me como um santinho pode beneficiar-se do impulso libertador da mensagem de Jesus.
Eu, por minha vez, não tinha nada que estar passando a imagem de um santo. Minha tarefa é transmitir a marca de Cristo, não a imagem de santo – e, definitivamente, não é a mesma coisa. Em primeiro lugar, a imagem de santo é tão rasa que qualquer canalha pode passá-la para os outros, mesmo os canalhas menos sutis, como eu. Segundo, nada está mais distante da essência da mensagem de Cristo do que gerar nos outros a impressão de que é preciso ser santo em primeiro lugar para poder beneficiar-se adequadamente da gentil onipresença do Reino e da graça. Na verdade, parte do escândalo da mensagem do evangelho está em sua ousadia de afirmar que ser santo não beneficia ninguém, nem mesmo quem é. Sua ousadia em afirmar que Jesus não tem coisa alguma a dizer ao que não precisa dele.
“Os sãos não precisam de médico” não quer apenas dizer, como estamos acostumados a pensar, que todos são doentes e por isso precisam de Jesus; também quer dizer que as partes de nós que crêem não precisar de intervenção, ou agem como se não precisassem, estão irremediavelmente perdidas.
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Juliano Fabricio
Carta literalmente roubada do @SAOBRABO