Os adultos que eu mais admirava na vida eram leigos, cristãos ou não cristãos, ou mesmo ateus.
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No entanto, não dera muita sorte com os pastores que tive. Não gostava da maneira condescendente com que eles me tratavam, não gostava do tom clerical com que pregavam e oravam, não gostava dos clichês que infectavam o vocabulário deles. A religião, da forma que eles a apresentavam, não tinha seiva.
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A igreja não era mais concebida como uma coisa que precisava de conserto, e sim como uma oportunidade de negócio que atenderia ao gosto do consumo de pecadores com preocupações espirituais dentro e fora das igrejas.
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Eu respeitava as Escrituras. Jesus para mim era assunto sério. A igreja também, assim como a oração, mas não os pastores. Em geral, eles pareciam não ter nada a ver com tudo isso.
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Minha impressão, quando adolescente, era que eles [pastores] jamais se interessavam pelas pessoas da igreja, muito menos por mim. O interesse deles era todo pela “mobília do céu ou pela temperatura do inferno”.
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O mercado religioso está repleto de milagreiros, de gente produzindo respostas, e todos eles dizem ter credenciais outorgadas por Deus.
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O que os pastores não fazem e não dizem é importante. Religião, segundo a Bíblia, não é conseguir de Deus o que queremos.
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O pastor, quando é notado, começa rapidamente a querer ser notado. Muitos anos atrás, um amigo pastor me disse que o ego pastoral ‘traz consigo o mau cheiro da doença, o cheiro implacável do ego’. Nunca me esqueci disso.
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O pastor é a única pessoa da comunidade que tem condições de levar a serio homens e mulheres pelo que são, de valoriza-los como são , de lhes dar uma dignidade que deriva do fato de serem Imagem de Deus, de serem pessoas criadas por Deus e que tem valor eterno sem que para isso tenham de provar que são uteis ou bons um alguma coisa.
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Boa parte do trabalho pastoral acontece quando não sabemos que estamos exercendo nossa vocação.
Tudo e todos estão interligados de um modo orgânico: as aves e os peixes, o solo e o ar, gays e héteros, ricos e pobres, macho e fêmea, e todos os alimentos de que nos servimos em casa — o café da manhã, o almoço, o jantar — derivam de algum modo profundo e poderoso da Ceia do Senhor.
Juliano Fabricio
isso sim é um pastor