Os evangelhos revelam uma cadeia das reações emotivas de Jesus:
• Ele parece emocionado, impulsivamente “movido pela compaixão” ou “cheio de piedade”.
• viveu um ideal de realização masculina que dezenove séculos mais tarde ainda escapa à maioria dos homens.
• três vezes, pelo menos chorou na frente dos seus discípulos. Não ocultou seus temores nem hesitou em pedir ajuda: “A minha alma está cheia de tristeza até a morte”, ele lhes disse no Getsêmani, “ficai aqui e velai comigo”. Quantos líderes fortes de hoje se mostrariam tão vulneráveis?
• ao contrário da maior parte dos homens que conheço, Jesus também gostava de elogiar outras pessoas. Quando operava um milagre, não raro desviava o crédito de volta para o contemplado: “A tua fé te salvou”.
• quando uma mulher assustada lhe ofereceu um extravagante ato de devoção, Jesus defendeu-a contra as críticas e disse que a história de sua generosidade seria lembrada sempre.
• súbita simpatia por uma pessoa leprosa,
• comia e bebia como outros homens e até ficava cansado e sentia-se solitário.
• exuberância devido ao sucesso de seus discípulos,
• um rasgo de raiva diante dos legalistas frios,
• tristeza por causa de uma cidade não receptiva,
• depois aqueles gritos horríveis de angústia no Getsêmani e na cruz.
• tinha uma paciência quase inexaurível com os indivíduos,
• mas não tinha paciência nenhuma com as instituições e com a injustiça.
Enfim... Jesus não seguiu mecanicamente uma lista de “Coisas para fazer hoje”, e duvido que apreciasse a ênfase que damos hoje à pontualidade e ao planejamento preciso. Ele foi a festas de casamento que duravam dias. Deixava-se distrair por qualquer “joão-ninguém” que encontrasse, quer uma mulher com hemorragia que timidamente lhe tocou o manto, quer um mendigo cego que se tornou maçante. Dois de seus mais impressionantes milagres (a ressurreição de Lázaro e a da filha de Jairo) aconteceram porque ele chegou tarde demais para curar a pessoa doente.
Gosto da frase de Bonhoeffer:
“Manteve-se livre — livre para os outros”.
Contudo, devido a todas essas qualidades que remetem para o que os psicólogos gostam de chamar auto-realização, Jesus quebrou o protocolo.
Como C. S. Lewis diz: “Ele não foi de maneira nenhuma o quadro que os psicólogos pintam de cidadão integrado, equilibrado, ajustado, feliz no casamento, bem-empregado, popular. Não podemos realmente estar ‘bem-ajustados’ ao nosso mundo se ele nos diz vá para o inferno e nos acaba pregando nus a um poste de madeira”.
Juliano Fabricio
[um perfil de pura desconstrução]