Há muito tempo eu havia visto uma matéria sobre o lançamento de "The Manga* Bible" (A Bíblia em Mangá). Lembro-me de que dei uma olhada em algumas páginas disponíveis na Amazon.com e achei a idéia muito legal. Eu torcia para que ela fosse traduzida para o português. Por não ter olhado os dados da publicação, eu pensava ser uma Bíblia de verdade, mas com algumas passagens ilustradas em estilo mangá em determinadas páginas.
Tratava-se, porém, de uma HQ mesmo. Achei melhor ainda, por constituir uma obra mais independente, que pode ser avaliada sozinha e por seus próprios méritos, e capaz de tornar a Bíblia um livro mais acessível ao público não-religioso e fã de quadrinhos.
Enfim, esses dias eu estava navegando pela sessão de HQs de uma grande loja virtual, e qual não foi minha surpresa de encontrar a Bíblia em Mangá em português! Fiquei muito contente. Mas lamentei a falta de uma resenha mais detalhada que tirasse minhas dúvidas sobre o produto, ou mesmo umas páginas para ler. Comprei os dois volumes e decidi fazer minha própria avaliação, já que em vários sites ninguém fez.
A história é bem adaptada, resumida e bem contada, alternando algumas histórias paralelas ao longo da principal. Por exemplo: a criação, a vida dos patriarcas e a saída do Egito são postas como Moisés narrando esses relatos às crianças no deserto, como se ele fosse um professor de EBD ensinando isto durante o Êxodo. Achei uma bela sacada dos autores. E, lá na frente, o fluxo da história principal é suspenso para contar sobre Jó e Rute.
Teologicamente, não vi problema algum – recomendadíssima.
Tem todos os livros da Bíblia resumidos? Não. Seria demais querer isto num volume fininho e em menos de 150 páginas (reparem que o livro tem pouco mais de 150). Além da narrativa, há extras como biografias dos autores e entrevistas com eles, o que é interessante para o leitor e amante de mangás.
O traço do autor é veloz, energético e, por vezes, caricato ou sensível, dependendo da gravidade ou leveza do relato. E a história é apresentada de forma dinâmica. Além do mais, são incluídas referências para o caso de você sentir curiosidade de acompanhar a história na Bíblia – muito bom!
Como ninguém é perfeito, aqui vão as falhas: com relação à versão bíblica base adotada... Embora os dados bibliográficos do livro mencionem a “Nova Versão Internacional para o Dia de Hoje”, edição de 2004, esta versão simplesmente não existe em português! Os dados do livro em inglês referem-se mesmo à “Today’s New International Version” da Sociedade Bíblica Internacional, mas não existe equivalente em português. Ou seja, traduziram os dados bibliográficos tais e quais, mas não tiveram o cuidado de utilizarem-se de uma versão corrente em português, que, no caso, obviamente, apontaria para a NVI.
O que fica claro é que não devem ter usado versão alguma, mesmo constando lá que sim, a julgar pelos muitos erros de concordância que o texto apresenta e pelos enfadonhos “vós” e “tus”, que aparecem constantemente com conjugações erradas, os quais, raramente, aparecem numa NVI. Isto revela falta de cuidado com a revisão de uma obra tão importante.
Eu sou intolerante com erros de português, mas o texto tinha tantos lapsos de concordância que eu cansava de ler. Às vezes eu queria encostar o livro num canto para respirar e contar até 10. Errar é humano, mas santa paciência!
Sugestões? Adotassem, de fato, uma versão bíblica. E fizessem uma revisão pesada e detalhada no texto para uma segunda edição – considerando o teor de “Bíblia”, a referência a uma versão hipoteticamente existente e moderna, e a contribuição com os leitores em fase de alfabetização (aprendi muito português com HQs da Turma da Mônica e da Disney, daí minha inquietação). A propósito, seria até melhor o mangá seguir a linguagem corrente da NVI e usar mais “você(s)” ao invés de “tu/vós”, porque a concordância é mais fácil e é muito usada pelos brasileiros.
Outros lapsos compreendem a confusão com alguns nomes e traduções. A cidade de “Midiã” é chamada de “Mídia”, e o pior que às vezes isso está até em negrito. Mas no mapa está correto. Isso gera certa discrepância entre o mapa e a fala de Moisés. Além disso, o mapa da página 146 tem uma frase não traduzida: “Ezra and Hehemiah’s returning exiles” (“A viagem de retorno de Esdras e Neemias”, em tradução livre).
Bom, críticas à parte, eu gostei da iniciativa de traduzirem "The Mangá Bible" para o português, como já disse. Recomendo-a a todos aqueles que gostam de HQs e da Bíblia. E para este volume eu dou uma nota 8. Os desenhos são muito legais, inclusive os mapas. Eu fiquei até pensando... E se saísse uma versão de “A Bíblia em Mangá” completa (como na versão em inglês), ampliada, com as devidas correções, colorida e em papel e encadernação de luxo? Ficaria mais-que-perfeita. (Só faltaria sonhar com a Bíblia em anime. E se esta já existir, e alguém souber, por favor me conte!)
Em breve publicarei a resenha referente ao volume do Novo Testamento.
* Mangá -- estilo oriental de histórias em quadrinhos, em que os personagens têm olhos grandes e expressivos, cabelos estilosos e aparecem em histórias de vários tipos, como dramáticas, de ação, policiais, fantásticas...)
Tratava-se, porém, de uma HQ mesmo. Achei melhor ainda, por constituir uma obra mais independente, que pode ser avaliada sozinha e por seus próprios méritos, e capaz de tornar a Bíblia um livro mais acessível ao público não-religioso e fã de quadrinhos.
Enfim, esses dias eu estava navegando pela sessão de HQs de uma grande loja virtual, e qual não foi minha surpresa de encontrar a Bíblia em Mangá em português! Fiquei muito contente. Mas lamentei a falta de uma resenha mais detalhada que tirasse minhas dúvidas sobre o produto, ou mesmo umas páginas para ler. Comprei os dois volumes e decidi fazer minha própria avaliação, já que em vários sites ninguém fez.
A história é bem adaptada, resumida e bem contada, alternando algumas histórias paralelas ao longo da principal. Por exemplo: a criação, a vida dos patriarcas e a saída do Egito são postas como Moisés narrando esses relatos às crianças no deserto, como se ele fosse um professor de EBD ensinando isto durante o Êxodo. Achei uma bela sacada dos autores. E, lá na frente, o fluxo da história principal é suspenso para contar sobre Jó e Rute.
Teologicamente, não vi problema algum – recomendadíssima.
Tem todos os livros da Bíblia resumidos? Não. Seria demais querer isto num volume fininho e em menos de 150 páginas (reparem que o livro tem pouco mais de 150). Além da narrativa, há extras como biografias dos autores e entrevistas com eles, o que é interessante para o leitor e amante de mangás.
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Como ninguém é perfeito, aqui vão as falhas: com relação à versão bíblica base adotada... Embora os dados bibliográficos do livro mencionem a “Nova Versão Internacional para o Dia de Hoje”, edição de 2004, esta versão simplesmente não existe em português! Os dados do livro em inglês referem-se mesmo à “Today’s New International Version” da Sociedade Bíblica Internacional, mas não existe equivalente em português. Ou seja, traduziram os dados bibliográficos tais e quais, mas não tiveram o cuidado de utilizarem-se de uma versão corrente em português, que, no caso, obviamente, apontaria para a NVI.
O que fica claro é que não devem ter usado versão alguma, mesmo constando lá que sim, a julgar pelos muitos erros de concordância que o texto apresenta e pelos enfadonhos “vós” e “tus”, que aparecem constantemente com conjugações erradas, os quais, raramente, aparecem numa NVI. Isto revela falta de cuidado com a revisão de uma obra tão importante.
Eu sou intolerante com erros de português, mas o texto tinha tantos lapsos de concordância que eu cansava de ler. Às vezes eu queria encostar o livro num canto para respirar e contar até 10. Errar é humano, mas santa paciência!
Sugestões? Adotassem, de fato, uma versão bíblica. E fizessem uma revisão pesada e detalhada no texto para uma segunda edição – considerando o teor de “Bíblia”, a referência a uma versão hipoteticamente existente e moderna, e a contribuição com os leitores em fase de alfabetização (aprendi muito português com HQs da Turma da Mônica e da Disney, daí minha inquietação). A propósito, seria até melhor o mangá seguir a linguagem corrente da NVI e usar mais “você(s)” ao invés de “tu/vós”, porque a concordância é mais fácil e é muito usada pelos brasileiros.
Outros lapsos compreendem a confusão com alguns nomes e traduções. A cidade de “Midiã” é chamada de “Mídia”, e o pior que às vezes isso está até em negrito. Mas no mapa está correto. Isso gera certa discrepância entre o mapa e a fala de Moisés. Além disso, o mapa da página 146 tem uma frase não traduzida: “Ezra and Hehemiah’s returning exiles” (“A viagem de retorno de Esdras e Neemias”, em tradução livre).
Bom, críticas à parte, eu gostei da iniciativa de traduzirem "The Mangá Bible" para o português, como já disse. Recomendo-a a todos aqueles que gostam de HQs e da Bíblia. E para este volume eu dou uma nota 8. Os desenhos são muito legais, inclusive os mapas. Eu fiquei até pensando... E se saísse uma versão de “A Bíblia em Mangá” completa (como na versão em inglês), ampliada, com as devidas correções, colorida e em papel e encadernação de luxo? Ficaria mais-que-perfeita. (Só faltaria sonhar com a Bíblia em anime. E se esta já existir, e alguém souber, por favor me conte!)
Em breve publicarei a resenha referente ao volume do Novo Testamento.
* Mangá -- estilo oriental de histórias em quadrinhos, em que os personagens têm olhos grandes e expressivos, cabelos estilosos e aparecem em histórias de vários tipos, como dramáticas, de ação, policiais, fantásticas...)