Diante de tantos modelos eclesiásticos propagados, tantos sistemas denominacionais dividindo os cristãos, penso ser profundamente pertinente falar sobre a estrutura da Igreja. Mas não para propor algo novo, não uma promessa de crescimento vertiginoso nem uma nova doutrina sobre a manifestação do corpo de Cristo na terra.

Há em voga diversas formas de agrupamento humano. E as formas menos sadias são as que massificam as pessoas dissolvendo a personalidade e desfigurando a identidade particular dos indivíduos. Ao que tudo indica, dado ao comportamento cada vez menos intimista da sociedade, as organizações tenderão a se tornar cada vez mais massificadoras.

De fato, nem sempre é possível ou mesmo prudente privilegiar a pessoalidade dos relacionamentos. As organizações, atendendo às necessidades pós-modernas, estruturam-se de forma a otimizar as relações interpessoais. Portanto não se pode radicalizar ao ponto de condenar toda e qualquer estrutura organizacional que não prime pela personalidade humana.

Não obstante, quando se trata da Igreja não podemos perder o foco. Paralelo ao que ocorre na sociedade secular, no meio religioso há uma profusão de estruturas hierárquicas, formas de governo e modelos a serem seguidos; ocorrendo ainda o peso da “sacralização” deste ou daquele, fazendo com que existam estruturas tidas como ortodoxas e as não-ortodoxas, sedo até mesmo chamadas de heréticas.

Não dá para dizer que Jesus tenha ditado algum tipo especifico de estrutura hierárquica, com descrição exata acerca de funções e posições a serem exercidas – muito diferente do que ocorreu nas histórias do Velho Testamento, nas quais Deus mesmo entregou a lei, juntamente com todos os detalhes sobre o ofício dos Sacerdotes, Sumo-sacerdotes, e outros oficiais do templo; tendo o próprio Templo sido minuciosamente descrito a fim de direcionar sua construção.

Jesus, contudo, falou de uma nova ordem das coisas, propondo algo totalmente revolucionário e contraditório: o maior servirá o menor (Lucas 22. 26). O que percebemos com a leitura dos evangelhos é que os discípulos, a semelhança de todos os homens, possuíam sede pelo poder. Há relatos de suas discussões sobre quem seria o maior. Mas não houve espaço para a proliferação desse tipo de diálogo. Jesus cortou o mal pela raiz!

A não sistematização de uma estrutura eclesiástica é um dos fatos mais curiosos dos evangelhos. Jesus parece nos entregar totalmente à direção do Espírito Santo. De forma que a própria organização da Igreja primitiva, narrada em Atos, é apresentada como sendo resultado da espontaneidade das reuniões familiares.

Paulo foi quem tratou a coisa num tom mais específico e com certa amplitude. Ele fala da Igreja como corpo – um organismo vivo –, assume a diversidade de membros e não vê problema algum na existência da unidade a despeito da diversidade inevitável (na verdade, desejável). Para ele, o Espírito Santo é quem forma o vínculo trazendo união.

Quando escreveu sua primeira carta aos coríntios, Paulo demonstrou sua crença de que a Igreja devia ser fundamentada nos dons – contudo não da maneira como ocorria entre estes irmãos. Ele lançou mão de uma analogia da Igreja com um corpo, a qual, assim como este, possui muitos membros com distintas funções.

A finalidade da distribuição de dons não se estava ligada nem um pouco com algum tipo de poder que permitisse porventura que o agraciado pelo presente exercesse autoridade sobre os demais a fim de subjugá-los. O objetivo era muito básico, cuidar uns dos outros segundo seu próprio dom (I Co 12. 25).

Em Efésios, Paulo trata do mesmo assunto só que explicitando o objetivo da manifestação de dons no corpo. Sobre os dons, ele repetiu : “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo - Ef. 4. 11-12”. (Só para lembrar, quando Paulo relata esses funções ele não esta promovendo uma hierarquia). E pela maneira como fala podemos entender que não somente as pessoas recebem dons mas também são dons de Deus para a Igreja, visto que “ele mesmo os deu” à Igreja.

A finalidade para qual os dons são entregues soa com muita clareza: “aperfeiçoamento dos santos para o ministério”. Tal entendimento, ainda que assumido pela maioria das Igrejas, não é levado às últimas conseqüências. Visto que uma resposta séria a tal afirmação paulina seria a capacitação dos irmãos em um nível no qual haja um momento em que estes sejam também capacitadores e não apenas ouvintes da mensagem.

O que ocorre é que as Igrejas em geral têm formado ouvintes, assistentes de culto, meros espectadores. E os modelos eclesiásticos assumidos também não favorecem em nada a manifestação e uso dos dons. Uma vez que, mesmo afirmando o sacerdócio universal dos crentes, as reuniões da Igreja giram em torno do pregador e ministros de louvor.

Os irmãos chegam no horário de início do culto, cumprimentam-se e se assentam, esperam passivamente o cumprimento de cada momento litúrgico e após a benção apostólica retornam para suas casas tentando digerir o que lhes fora dado num monólogo quase sempre insatisfatório.

A visão de uma Igreja estruturada a partir de dons não significa que se deva cair em uma neurose religiosa em busca de dons e automutilação emocional a fim saber se se tem ou não este ou aquele dom para uma possível contribuição com o corpo.

Até porque é o próprio Espírito Santo quem distribui os dons segundo lhe convém, como escreveu Paulo: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (I Co 12. 11). De forma que se deve orar para que Deus manifeste seus dons à Igreja segundo as necessidades vigentes. Ele mesmo sabe quais são!

Um entendimento errado têm levado pessoas sinceras a escolherem quais dons desejam que se manifestem em suas vidas. Penso eu ser o resultado de uma interpretação equivocada do que Paulo quis dizer quando instou: “Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente” (I Co 12.31).

Nesta fala ele, de modo algum, está dizendo que devemos escolher quais dons queremos segundo nossa própria vontade – que, sabemos, é tendenciosa e inclinada à glória pessoal. No trecho seguinte da carta Paulo escreveu um dos mais lindos textos falando sobre o amor. E embora o mesmo texto seja muito utilizado em casamentos, seu surgimento ocorre no contexto do emprego dos dons espirituais no seio da Igreja.

A fim de esclarecer o texto, ouso parafrasear o apóstolo: “Vocês podem procurar com afinco os melhores dons, e depois de encontrá-los eu ainda terei de lhes mostrar algo ainda muito mais excelente: o amor. Qualquer desses dons sem amor nada será” (I Co 13).

Algo tão simples. Algo tão deturpado hoje em dia que perdeu-se a compreensão do que seja uma Igreja carismática (cheia de dons). Há, sim, muitas Igrejas nominalmente chamadas de carismáticas. Contudo, isso se refere apenas a uma linha teológica assumida. Os dons são tão naturais para a Igreja quanto os órgãos para o corpo humano. Não há membro sem função no corpo humano, assim também não há membro sem dons no corpo de Cristo.

Adaptado por Juliano Fabricio  Texto original: Humberto Ramos

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