As igrejas que frequentei enfatizavam os perigos do prazer tão exageradamente que perdi qualquer mensagem positiva que elas pudessem estar passando.
Guiado por Chesterton, passei a ver o sexo, o dinheiro, o poder e os prazeres sensoriais como boas dádivas de Deus. Todos os domingos, posso ligar o rádio ou a televisão e ver pregadores censurando as drogas, a libertinagem sexual, a ganância e o crime que estão "crescendo assustadoramente".
Em vez de simplesmente balançar nosso dedo diante de tão óbvios abusos das boas dádivas de Deus, talvez devêssemos demonstrar ao mundo de onde esses presentes realmente vêm e por que eles são bons. O maior triunfo do mal pode ser seu sucesso em retratar a religião como uma inimiga do prazer, quando, na verdade, a religião aponta para sua fonte: todas as coisas boas e agradáveis são invenção do Criador, que doou liberalmente esses presentes ao mundo.
É natural que, num mundo distanciado de Deus, até mesmo as coisas boas devem ser tratadas com cuidado, como se fossem explosivos. Perdemos a imaculada inocência do Éden, e todo o Bem representa também um risco, possuindo dentro de si o potencial para o abuso. Comer se transforma em glutonaria, o amor se torna desejo e, durante o processo, perdemos de vista Aquele que nos deu o prazer.
Os antigos transformavam as coisas boas em ídolos; nós, modernos, chamamo-las "vícios". Em ambos os casos, aquele que deixa de ser servo transforma-se num tirano.
"Sou ordinário no exato sentido da palavra", diz Chesterton, "o que significa aceitação de uma ordem, um Criador e uma Criação, o senso comum de gratidão pela Criação, vida e amor como dádivas permanentemente boas, com o casamento e o cavalheirismo como leis que o controlam de maneira adequada".
Sob sua influência, também percebi a necessidade de me tornar mais "ordinário". Havia concebido a fé como um mudo e severo exercício de disciplina espiritual, uma mistura de ascetismo e racionalismo na qual a alegria não tinha espaço. Chesterton restaurou em mim uma sede pela exuberância que flui de uma ligação com o Deus que planejou todas as coisas que me dão prazer.
Deixo essa frase de pura provocação do polêmico Caio Fabio:
“Uma sociedade que só introjeta pecado vai produzir só tarados! Não tem jeito dos evangélicos melhorarem enquanto eles piorarem o mundo para todos.”
Juliano Fabricio
...em todo o prazer que houver nessa vida
Dica: Leia Chesterton