Minha tarefa é demonstrar por uma leitura leiga da Bíblia que longe de nos oferecer uma base certa para o Estado e para autoridade, com uma vontade maior de compreensão, nos leva a anarquia, não, é claro, no senso comum de desordem,
mas no sentido de anarche*: sem autoridade, sem dominação.
Comumente falamos de uma anarquia pura quando vemos desordem. Isso acontece porque o ocidente está convencido de que a ordem possa ser estabelecida na sociedade somente por um poder forte e centralizado e pela força (polícia, exército, propaganda). Para desafiar o poder dessa maneira, é necessária a desordem!
Lutero, por exemplo, estava tão temeroso em relação à desordem das revoltas camponesas (uma consequência da sua pregação sobre a liberdade cristã, que grupos de camponeses aceitaram e quiseram manifestá-la) que rapidamente chamou os príncipes para sufocar os levantes.
Calvino poderia mesmo dizer que qualquer coisa é melhor que a desordem social, inclusive a tirania! Citei esses dois autores porque eles me são próximos (enquanto protestante), e também para mostrar que mesmo leitores fiéis da Bíblia e verdadeiros cristãos podem ser cegados pela utilidade óbvia dos reis, príncipes, etc. Eles podem ler a Bíblia somente através deste filtro.
Mas hoje, confrontado pelo esmagamento de indivíduos pelo Estado seja qual for o regime, nós precisamos desafiar este beemote (monstro) e portanto, ler a Bíblia diferentemente.
Juliano Fabricio lendo o polêmico livro
[Anarquia e Cristianismo de Jacques Ellul]