[Nunca fui bom com carro, computadores e esportes...]
Em compensação,
Sei reconhecer a tosse de meus filhos em enfermaria lotada.
Sei reconhecer o choro de meus filhos em praça pública.
Sei reconhecer o riso dos meus filhos em pleno alvoroço do dia a dia.
Os filhos são a universidade do meu instinto. Decorei seus timbres da dor ao entusiasmo, do berro à gargalhada.
Meus ouvidos são caseiros. Meus ouvidos são cardíacos. Meus ouvidos são caninos em casa.
São alguns anos acordando e assistindo eles dormirem pela manhã, antecipando seus desejos, adivinhando seus rancores, repondo as cobertas dos meus filhos na madrugada.
Pelos silêncios e omissões, identifico quando experimentam a alegria de uma novidade.
Pela maneira de abaixarem a cabeça, percebo quando pedem ajuda.
Pela pressa do almoço, vejo sua displicência e vontade de voltar aos brinquedos.
A duração do seus bocejos denunciam a insônia. O olhar parado no copo revela o descontentamento com o dia.
Sofro com seus possíveis sofrimentos. Eu me preocupo como será no tempo da escola, se suportarão boicotes ou serão amados, se estarão comendo o suficiente, se estarão felizes.
Junto pressentimentos, sonho rumores, advogo sinais.
Ps: Durante todo a minha vida até aqui, acabei me deparando com caras que amavam quadros. Filmes. Músicas. Amavam correr, nadar, pedalar. Fotografar. Caras que amavam escrever. Um cara (um único cara, especificamente) que era político mas, apesar disso, amava ajudar os outros.
Enfim... Caras incríveis.
Eu como pai me tornei um cara comum. Ao observar esses amigos, caras que admiro, e amam tantas coisas distintas, notei que meu amor entrou num funil e, pelo lado estreito, saiu quem sou, hoje.
Amo apenas pessoas. E, algumas delas, feito os meus filhos, amo mais que a mim mesmo.
Sou mais pai do que qualquer outra coisa.
Juliano Fabricio
[Inspirado no bate papo muito legal que assisti
no programa A MÁQUINA do Carpinejar)