Nenhum ufanista é ingênuo.
Os interesses que escondem são perniciosos e as consequências, desastrosas. Mulheres azedam na vida porque alguém lhes promete que Deus (ou Santo Antônio) traz marido “no tempo certo”. Empresários desesperam porque alguém assegura que “o Senhor não permite que seus filhos fracassem nos negócios”. Pais e mães se arrasam, existencialmente, por jamais cogitarem que Deus “permitiria” a morte de um dos filhos – “uma família piedosa e obediente sempre pode contar com os livramentos do Senhor”.
É triste notar multidões acorrentadas às promessas que “um dia chegarão” – mas não chegam nunca. Não há como evitar a revolta de ver pessoas creditando dificuldades e agruras aos “paradoxos do divino ”, ou aos “mistérios insondáveis de Javé”.
O dia a dia acaba esvaziando o discurso triunfalista.
Por mais que charlatões e canastrões prometam cura, em um país com um sistema de esgoto precário, crianças vão agonizar com diarreia nas comunidades pobres. Embora se repita, nos ambientes religiosos, que os anjos estão ao dispor dos crentes, se falta ambulância na periferia das grandes cidades, gente vai morrer à mingua. Não adianta clamar aos céus para ganhar uma blindagem extra, se professores da rede pública são subvalorizados e o Estado corta verba para a educação. Sem escola de qualidade, o ciclo vicioso ignorância-desemprego-miséria-violência se perpetua.
A vida de muitos simplesmente não se tornará um sucesso. A estrutura econômica do Brasil, assimétrica na distribuição da riqueza e na manutenção dos privilégios de poucos, não permite que o pobre suba pelas malhas da inclusão social. Oligarcas nunca se mostram dispostos a abrir mão de seus benefícios (basta ver a miséria do Maranhão, por décadas feudo de uma família poderosa).
Uma geração inteira de judeus não conheceu a terra prometida. A história se repete trágica: homens adoecerão antes de conseguirem recuperar suas empresas; mulheres não vão mudar a realidade machista que as asfixia; meninos não sairão do lugarejo pobre e desprovido de oportunidade profissional. Rapazes, que sonhavam em jogar futebol na Europa, terão que se contentar com o salário mínimo.
Ninguém deve desprezar a realidade em nome de uma esperança fantasiosa. Nenhum grupo pode negligenciar a luta por justiça social por aguardar intervenções milagrosas.
Religião alguma tem o direito de perpetuar a ilusão em nome do otimismo.
Fica a reflexão!!!
Juliano Fabricio concordando como o intitulado herege Ricardo Gondim
Texto original: A verdade que liberta