“Sem Deus, sem Mestre”
E
“Creio em Deus Pai Todo Poderoso”
Essas duas convicções eu mantenho com toda sinceridade. Ninguém pode ser mestre dos outros no sentido de ser superior. Ninguém pode impor sua vontade aos outros. Não reconheço nada a não ser Deus como o Mestre supremo.
Rejeito toda hierarquia humana.
Jean-Paul Sartre expressou muito bem o valor único de todo ser humano quando disse que um ser humano, não importa quem, tem o mesmo valor que todos os outros. Antes de Sartre, Jesus não fez distinção entre as pessoas. Os que estavam no poder ficaram desconcertados com sua atitude e quiseram sua morte. Disseram a Ele: “ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens” (Mateus 22:15). A vida humana transcende todas as leis que tentam organizar a sociedade. Mateus, Marcos, Lucas e João estão cheios de histórias de confrontos entre Jesus e as autoridades porque ele violou a lei preocupado com as vidas individuais.
Rejeito a hierarquia entre nós e Deus.
Deus, ao menos o Deus que Jesus chama de Pai e o qual ele nos diz para chamar de Pai, nunca nos é apresentado como um Mestre que impõe sua vontade a nós ou que se refere a nós como inferiores. Para Jesus não há relação hierárquica entre Pai e Filho. Ele diz: “Eu e o Pai somos um. . . ó Pai, o és em mim, e eu em ti” (cf. João 10:30; 17:21).
Pessoas religiosas que apenas conseguem pensar em termos de rivalidade, superioridade, igualdade e inferioridade deste modo trazem contra Jesus a acusação de que Ele estaria se dizendo igual a Deus. Eles são incapazes de imaginar que um homem, Jesus, pode ser Deus com o seu Pai, e a vocação de todos nós é ser Deus com o Pai. O autor do Gênesis (para se referir à Bíblia) encontra nossa falha humana nessa atitude de querer nos tornarmos como deuses conhecendo o bem e o mal ao invés de ser com Deus no prazer de viver e de criar a vida. Essa atitude daqueles que estão preocupados com si mesmos e sua posição social engendram todo tipo de infelicidade. Somos deixados sozinhos, nus e desprezados, nos acusando mutuamente, nos fadigando, na criação e procriação semeando morte, lutando pela dominação ou aceitado a dominação com medo.
Enfim...
Cremos em Jesus. O reconhecemos como nosso Deus e assim O chamamos. Isso não é porque vemos nEle qualidades divinas: onipotência, transcendência, eternidade, etc. É por causa da atitude dEle de amar aos outros, que nos leva a viver do mesmo jeito e nos dá gosto pela vida.
Juliano Fabricio lendo o polêmico livro
[Anarquia e Cristianismo de Jacques Ellul]