Eis aqui, portanto, o seu "Jesus original",
o seu "simples e inofensivo mestre da justiça",
cujo sermão do Monte contém "ética simples e nenhum dogma"!
Ele ensina com a autoridade de Deus e declara a lei de Deus. Ele espera que as pessoas edifiquem a casa de suas vidas sobre as palavras dele, e acrescenta que só aqueles que o fazem são sábios e estarão seguros. Ele diz que veio para cumprir a lei e os profetas. Ele é o Senhor que deve ser obedecido e o Salvador que concede bênçãos. Ele se coloca no papel central do drama do dia do juízo. Ele fala de Deus, chama-o de seu Pai num sentido único, e finalmente dá a entender que faz o que Deus faz, e que o que as pessoas lhe fazem estão fazendo para Deus.
Não se pode fugir do que em tudo isso implica.
As reivindicações de Jesus foram verdadeiramente expostas com tanta naturalidade e modéstia e de maneira tão indireta que muitas pessoas jamais as percebem. Mas estão aí; não podemos ignorá-las e ainda assim manter a nossa integridade.
Ou elas são verdadeiras, ou Jesus sofria de uma coisa que C. S. Lewis chamou de "megalomania aguda". Mas poderia alguém defender seriamente que a ética sublime do Sermão do Monte é produto de uma mente perturbada? É preciso um alto grau de cinismo para chegar a tal conclusão.
A única alternativa é aceitar Jesus ao pé da letra, e suas reivindicações pelo que realmente são.
Neste caso, devemos aceitar o seu Sermão do Monte com seriedade extrema, pois aqui está o quadro que ele apresenta da sociedade alternativa de Deus. São os padrões, os valores e as prioridades do reino de Deus. Com demasiada frequência, a Igreja tem se afastado deste desafio, mergulhando numa respeitabilidade burguesa e conformista. Nessas ocasiões fica quase impossível distingui-la do mundo: perde a sua salinidade, a sua luz se extingue e ela repele todos os idealistas, pois não dá evidências de ser a nova sociedade de Deus que já está desfrutando das alegrias e do poder da era vindoura. Só quando a comunidade cristã viver pelo manifesto de Cristo é que o mundo será atraído e Deus, glorificado. Portanto, quando Jesus nos chama, é para isto que o faz, pois ele é o Senhor da contracultura!
Juliano Fabricio
relendo o sermão do monte
através do contra cultura de John R.W.Stott