Dizia Neruda, sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas. Comeria toda a terra. Beberia todo o mar

A nossa infelicidade se deve a isso, que não podemos comer com a boca tudo o que comemos com os olhos. E duplamente erótica é a boca, de novo, primeiro porque dentro dela moram os sabores, e agora porque é o lugar supremo do tato, da carícia, o toque molhado dos lábios, a língua, o mordiscar, o beijo... 

Dizem os teólogos que Deus fez todas as coisas. Dizem mais que, se Deus fez, é bom. Claro. Seria heresia imaginar que Deus tivesse feito coisa ruim e proibida. 

Primeira conclusão:
 foi Deus que fez este festival de possibilidades de prazer. 

Segunda conclusão: se Deus criou tantos jeitos de ter prazer, é porque ele nos destina ao prazer. Confesso que fico horrorizado com o fato de nunca, mas nunca mesmo, ter visto qualquer padre ou pastor pregar sobre o imperativo divino de ter prazer na vida. Ao contrário, estão sempre advertindo, graves e solenes, sobre os perigos do prazer, como se ele fosse coisa do Diabo. Me contaram (recusei-me a acreditar, pelo absurdo da coisa, mas me garantiram ser verdade), que num curso para casais, aconselhava-se que os noivos, sempre que tivessem de ter uma relação sexual (depois de casados, é claro), que se dessem as mãos e rezassem um Padre Nosso. Ai, se eu fosse Deus fulminava um religioso desses com um raio! 

Pois é mais ou menos como se eu desse uma boneca para a minha neta e lhe dissesse: Olha, Mariana, todas as vezes que você quiser brincar com a sua boneca, chama o vovô ao telefone para pedir permissão, tá?

Pelo que conheço dos doutores em coisas divinas, de cuja companhia privei por longos anos, eles têm ideias diferentes sobre Deus. Pintam-no sempre de cenho carregado, não há registro algum de que ele jamais tenha dado uma boa risada, o que nos obriga a concluir que ele não tenha senso de humor, sempre com seu enorme olho sem pálpebras aberto (e sem pálpebras para não fechar nunca, para não deixar passar nada, Deus te vê, cuidado coro o lugar onde você põe a mão; ao dormir, nos colégios de freiras, as meninas tinham de dormir com as mãos sobre as cobertas). Sua biblioteca só tem livros de ética, ordens, ameaças, advertências, nenhum livro de estética, ou erótica, ou ficção, a despeito de Nosso Senhor Jesus Cristo ter dito que no Reino de Deus só entram crianças, o que nos obrigaria a concluir que Deus também é uma criança, como o fez o Alberto Caeiro, nunca li um tratado sobre os brinquedos de Deus... E eu me pergunto: Como é possível arear um ser assim? 

Acho o prazer uma coisa divina. Para ele fomos feitos. O amor, o humor, a comida, a música, o brinquedo, a caminhada, a viagem, a vadiagem, a preguiça, a cama, o banho de cachoeira, o jardim – para estas coisas fomos feitos. Para isso trabalhamos e lutamos: para que o mundo seja um lugar de delícias. Pois esse, somente esse, é o sentido do Paraíso: o lugar onde o corpo experimenta o prazer.

Juliano Fabricio lendo 
Rubem Alves em sua Teologia do cotidiano

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