Numa manhã clara do mês de maio de 1938 estava meu avô Tertuliano Goulart aquecendo-se ao sol, lendo seu inseparável jornal, quando me aproximei e perguntei-lhe: Vovô, onde o Sr. arranjou a sua primeira bíblia que leu? E ele com toda aquela paciência que lhe era peculiar satisfez minha curiosidade com uma história interessante que escrevi, guardei e a transmito a todos que me pedem.
É a seguinte:
“Corria o ano de 1872, tinha eu na minha adolescência um companheiro inseparável, o primo Querubino. Este achou entre os livros de seu pai, um que lhe chamou a atenção por ser impresso em caracteres de tipos diferentes dos outros. Começou a folheá-lo, mostrou-o a mim e fomos nós até meu pai para perguntar que livro estranho era aquele. O tio, só soube esclarecer que aquele livro chamava-se bíblia e devia tratar de questões religiosas que a ele não interessava.
Porém, nós começamos a estudar com vivo interesse o referido livro, e com o passar dos dias sentimos que as palavras daquele livro misterioso penetravam em nossos corações, fazendo-nos desejosos de praticar o que ali íamos lendo. Todas aquelas palavras eram para nós, maravilhosas demais, e diferentes de toda doutrina que estávamos acostumados a seguir. Deus começava a atuar em nossos corações.
Passados algum tempo, encontramos num jornal editado em São Paulo o anuncio chamado “IMPRENSA EVANGÉLICA” órgão editado em Descalvado S.P. Resolvemos fazer uma assinatura do referido jornal e por ele ficamos sabendo que um missionário chamado Jonh Boyle, oferecia-se para explicar o evangelho a quem o procurasse, isto o que estávamos precisando. Imediatamente entramos em contato com aquele pioneiro evangelístico dos sertões, que ao receber nossa comunicação saiu com tropas a cavalo de Mogi-Mirim-SP e rumou para Bagagem (hoje Estrela do Sul) cidade onde residíamos. Mas chegando a Bagagem o homem teve uma grande decepção: com a demora de correio e a exaustiva viagem, longa e demorada, ao chegar não nos encontrou mais, havíamos mudado para Araguari. Mas o grande servo de Deus Jonh Boyle impulsionado pelo ardor evangelístico não se desanimou, passado algum tempo dirigiu-se para Araguari a fim de localizar os interessados nas boas novas de salvação. Quando ele chegou eu já estava casado com Maria Otilia então uma menina com apenas quatorze anos. Era o ano de 1884.
Em nossa casa reuniu-se toda a família, para ouvirem pela primeira vez a pregação do evangelho de Cristo nosso Senhor. Alguns aceitaram prontamente a nova fé e foram logo recebidos por Profissão de Fé e Batismo. Foram eles: eu Tertuliano Goulart, minha esposa Maria Otilia, Querubino dos Santos, Querubina Firmina de Carvalho e Teodolino Mendes de Carvalho. Nós fomos os primeiros membros da Igreja Presbiteriana de Araguari e de todo Triângulo Mineiro.
Nesse tempo voltamos para Bagagem, pois mantínhamos um jornal chamado “O Garimpeiro”, ali resolvemos iniciar um trabalho Presbiteriano e o trabalho foi crescendo, Jonh Boyle nos visitou e animado com o andamento da obra resolveu se mudar para Bagagem, mudou, trabalhou ali, e ali morreu e está sepultado os restos mortais do grande evangelista.

Esther Goulart Siqueira Tillmam – neta de Tertuliano Goulart e esposa do Reverendo Sebastião Tillmam. (escrito de próprio punho em 05 de agosto de 1989).
Anônimo disse...
Depois de apurada pesquisa foi editado o livro: Igreja Presbiteriana de Araguari, Uma Trajetória de Cem Anos. Edição ccomemorativa do centenário da Igreja em agosto de 1993.