Fico me perguntando se a igreja não adotou um enfoque completamente equivocado ao tratar do sexo.
(fui bem bonzinho...)
Com demasiada frequência, a igreja tem tratado a sexualidade como uma ameaça, uma rival da espiritualidade. Se você está sobrecarregado com sexo, reprima sua sexualidade e sublime essa energia num anseio por Deus.
*Por séculos a igreja preferiu não tocar nesse assunto, chegando a proibi-lo.*
Questiono a motivação por trás disso. Será que podemos substituir de forma tão direta um impulso (o da união espiritual) por outro (o da união física)?
Duvido disso. Afinal, no jardim do Éden, quando Adão tinha perfeita comunhão espiritual com Deus, mesmo naquela época sentiu solidão e anseios que não encontraram alívio antes de Deus criar Eva.
Em vez de contrapor a sexualidade à espiritualidade, uma rivalizando com a outra, eu as vejo profundamente relacionadas. Quanto mais observo a obsessão de nossa sociedade com a sexualidade, mais percebo nisso uma sede de transcendência.
Nesse ponto de vista, o sexo não e um rival da espiritualidade, mas, em vez disso, aponta para ela. Quando a sociedade obstrui de forma tão abrangente a sede humana por transcendência, devemos nos surpreender que tais anseios se redirecionem para uma expressão de mero apego ao físico?
Talvez o problema não seja que as pessoas estejam se despindo, mas que elas não estejam se despindo o suficiente: paramos na pele em vez de ir mais fundo, de ir até a alma.
Quando Deus repreendeu os israelitas por sua idolatria, não estava condenando a ânsia de adoração deles. Também não estava desaprovando as ânsias mais imediatas que os impulsionavam na direção dos ídolos: desejo por fertilidade, por bom clima, por sucesso militar. Em vez disso, ele os condenou por buscar essas coisas em amontoados inertes de madeira e ferro, em vez de buscá-las nele.
O que o Antigo Testamento chama de idolatria,
nós chamamos de "vícios"
Estes, da mesma forma, são frequentemente coisas boas (sexo, comida, trabalho, chocolate) que extrapolam seu devido lugar e passam a controlar a vida de uma pessoa. Para muitos o sexo representa um "ídolo" no qual ele ou ela investe todos os sonhos e esperanças. O ídolo do sexo, assim como o bezerro de ouro, não consegue suportar o peso de tal comprometimento. Ele sempre decepciona.
Não foi a toa que uma "proscrita" mulher samaritana cheia de problemas nessa área foi a primeira pessoa a quem Jesus abertamente se revelou como Messias.
Enfim... “A sexualidade continua a ser o último tabu do cristianismo. Nada do que é humano nos deveria ser estranho (Terêncio). Os cristãos continuam a estranhar a natureza, ou, na visão de Rubem Alves, não querem ouvir “as vozes do corpo””. Ouvi isso em uma palestra do saudoso Robinson Cavalcanti
Juliano Fabricio
*contrariando a ótima cantora Rita Lee:
Amor é cristão, Sexo TAMBEM.
(Ps:Ouça Rita Lee)