Enxergo a Bíblia inteira como história passo a passo das condescendências de Deus.
De Adão no jardim, a Moisés na sarça ardente, aos israelitas na nuvem gloriosa e, finalmente, a todos nós na Encarnação, ele condescendeu, ou "desceu para estar conosco". O verdadeiro cristão segue esse exemplo, como resumiu claramente o apóstolo Paulo nesta passagem: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens" (Fp 2:5-7).
Uma vez mais, no entanto, com o tempo o significado da palavra se diluiu.
Perdemos a refinada arte da condescendência. Quem de nós daria boas-vindas à observação "você é tão condescendente!"?
Só para exemplificar a perda desse significado: Alcançar os necessitados não é uma opção para o cristão. É uma ordem.
Quando Jesus viveu aqui num corpo físico, ele ficou em meio aos pobres, viúvas, paralisados e até mesmo entre os que tinham doenças terríveis. Pessoas com lepra, por exemplo (portadores de AIDS dos tempos antigos), eram obrigados a gritar "Impuro! Impuro!" se alguém se aproximasse. Tocar nessas pessoas era contra a lei de Moisés. Mas Jesus desafiou a lei e o costume ao se dirigir a portadores de lepra e tocá-los — um ato assombrosamente condescendente.
Esse tem sido o padrão consistente adotado por Deus na história.
Considerações: Muito daquilo que leio sobre depressão, dúvida, suicídio, sofrimento e homossexualidade parece ter sido escrito por pessoas que começam com uma conclusão cristã e que nunca passaram pelos angustiantes passos, tão familiares a uma pessoa que luta contra a depressão, a dúvida, o suicídio, o sofrimento e a homossexualidade. Nenhuma resolução poderia ser tão simples para uma pessoa que verdadeiramente sobreviveu a essa jornada. [nesses casos aplica-se a condescendência]
Juliano Fabricio
Em processo de condescendência