“A situação de uma pessoa imersa nas palavras dos profetas é a de alguém exposto a um bombardeio incessante de indiferença, e a indiferença, e a pessoa precisa de um crânio de pedra para permanecer insensível a esses ataques”. – Abraham Heshel
Jeremias iniciou seu ministério no reinado de Josias, um rei bom que adiou temporariamente o juízo de Deus prometido por causa do governo terrível de Manassés.
Os acontecimentos estavam mudando rapidamente o Oriente Próximo. Josias tinha iniciado uma reforma, a qual incluía a destruição dos lugares altos pagãos em Judá e Samaria. Entretanto, a reforma teve um efeito pouco duradouro sobre o povo. Assurbanipal, o último grande rei assírio, morreu em 627 aC. A Assíria estava enfraquecendo, e Josias expandindo o seu território para o norte. A Babilônia, sob o domínio de Nabopolasar, e o Egito, sob Neco, estavam tentando sustentar sua autoridade sobre Judá.
Em 609 aC, Josias foi morto em Megido ao tentar impedir o Faraó Neco de ir contra o que restava da Assíria. Três filhos de Josias (Joacaz, Jeoaquim e Zedequias) e um neto (Joaquim) sucederam-no no trono. Jeremias viu a insensatez da linha de ação política desses reis e alertou-os sobre os planos de Deus para Judá, mas nenhum deles deu atenção à advertência. Jeoaquim foi abertamente hostil a Jeremias e destruiu um rolo enviado a ele, cortando-o em algumas colunas e jogando-as no fogo. Zedequias foi um governante fraco e vacilante, buscando às vezes os conselhos de Jeremias, outras vezes permitindo que os inimigos de Jeremias o maltratassem e o aprisionassem.
Imagine só...Jeremias andando sob uma canga de boi para chamar a atenção para a mensagem de destruição eminente. Um profeta que encheu o livro mais extenso da bíblia com uma mensagem exprimida entre soluços. Deus o escolheu para comunicar a angústia que Ele mesmo estava sentindo... Esperava outro tipo de expressão de Jeremias... “me é o coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos. Estou fatigado de contê-lo, e não posso mais”. Também protestou em alta voz contra o fracasso da “teologia do sucesso”.
Abraham Heschel um dos melhores intérpretes judeus dos profetas, diz: “Deus se mostra furioso nas palavras de um profeta [...] O fato de o criador dos céus e da terra estar se importando com a maneira com que um indivíduo desconhecido se comporta com viúvas e órfãos é um pensamento surpreendente e quase incompatível com qualquer forma racional de tentar entender a Deus”.
Contudo Deus se importa, e o profeta manifesta essa preocupação.
PS: A Bíblia não registra nenhum milagre nessa época.
Juliano Fabricio